Crítica, Séries

GRAN HOTEL | 1ª Temporada

“Este hotel é o meu mundo”

Gran Hotel é uma série com ares e corpo de uma típica novela, estreada em 2011. Ótima opção de língua espanhola em meio à hegemonia da língua inglesa (seja dos Estados Unidos ou da Inglaterra), ela traz, nesta primeira temporada, uma mistura muito interessante de mistério, romance e investigação policial inteligente e perspicaz.

A história começa quando Julio Olmedo (Yon González) chega à cidade de Cantaloa, interior da Espanha, nos inícios dos anos 1900. Ele vai atrás da irmã, Cristina (Paula Prendes), que trabalha como camareira no Gran Hotel, empreendimento de luxo administrado pela família Alarcón. No caminho, vê Alicia Alarcón (Amaia Salamanca), e se interessa por ela à primeira vista. Ao chegar ao hotel, vira amigo de Andrés Cernuda (Llorenç González), garçom. Ele conta que Cristina foi demitida e ninguém mais a avistou nas redondezas. Desconfiado (já que sua irmã costumava lhe mandar cartas frequentemente e já havia um mês que eles não se comunicavam), Julio resolve começar a trabalhar no hotel para saber o que realmente ocorreu. Com a ajuda de Alicia e Andrés, o protagonista se envolve em uma trama de assassinatos, mentiras e muitas – muitas – reviravoltas.

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Palacio de la Magdalena, na cidade de Santander (Espanha) onde foram gravadas cenas da série. Foto: Reprodução

À primeira vista, Gran Hotel realmente lembra uma típica novela brasileira, isso principalmente por causa dos conflitos pessoais (a mãe que quer que a filha se case com um homem que pode salvar a família da ruína, o amor proibido por diferenças sociais), mas diferente do que pode parecer, essas características não prejudicam a trama. Pelo contrário, tudo é colocado de forma dosada e os elementos se completam ao invés de auto sabotarem.

Primeiro o mistério. O clima inicial é inofensivo. Quando Julio chega ao Gran Hotel, tudo é muito limpo, claro, espaçoso, feliz, tranquilo. Não parece que acontecimentos realmente graves possam ocorrer entre e em volta daquelas paredes. E esse é um dos trunfos dessa primeira temporada da série. Os ares do suspense crescem aos poucos, sorrateiramente a cada conversa, olhar, sorriso falso. Ao mesmo tempo, nada demora muito a ser descoberto. Uma qualidade importante da série é que os personagens falam diretamente o que sentem, não há tempo para enrolação e isso é um grande alento para o telespectador, que precisa prestar atenção para não perder os mínimos detalhes dos próximos passos de todos.

Duas grandes reviravoltas acontecem, uma no episódio sete, após a chegada do Detetive Ayala (Pep Antón Muñoz), e outra no episódio onze, quando uma importante personagem chega em Cantaloa. Fora essas, pequenas surpresas aguardam o espectador em quase todos os episódios. Isso demonstra não somente uma segurança do roteiro, que não dispensa revelar segredos ao longo das cenas, como da direção, que consegue tirar o máximo de seus atores.

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Em sentido horário: Julio, Alicia, Andrés, Belén, Ângela (mãe de Andrés), Diego, Teresa e Detetive Ayala Foto: Divulgação

E esse é outro trunfo de Gran Hotel. Seu elenco é recheado de talentos preciosos. A começar pelo casal protagonista, que, mesmo em meio ao romance, não perde o foco do que realmente importa ali. Julio é determinado, objetivo, preciso. É fácil entender sua busca incessante pela irmã. Alicia é desconfiada, inteligente, decidida, mesmo quando forçada a fazer algo que não quer (devido à sua posição dentro da família Alarcón e à época em que vive), pondera muito antes de obedecer ou não. Não depende de Julio para resolver suas próprias questões. A relação entre eles começa antes da paixão, que nasce aos poucos, pela convivência e interesses em comum, o que torna tudo mais crível e prazeroso de assistir.

Além deles, é preciso falar de três personagens. Primeiro, Teresa Alarcón (Adriana Ozores), mãe de Alicia. Fria e dissimulada, a matriarca da família que comanda o Gran Hotel é ao mesmo tempo admirável (afinal, em uma época em que à mulher quase tudo era negado, começando pela liberdade de decisões, ela consegue se impor e quase nunca ser questionada – quando sim, retruca rapidamente) e odiada. Típica vilã. Ao seu lado está Diego Murquía (Pedro Alonso). Dúbio, ele é um dos personagens mais complexos e interessantes da história. É bom vê-lo em cena, sempre com um ar confiante e ao mesmo tempo ligeiramente frágil. Por último, o Detetive Ayala. Longe da caricatura do detetive que tudo descobre com um passe de mágica ou por pura sorte, Ayala é extremamente lógico e utiliza todos seus recursos nas investigações. Ele pensa em voz alta, o que ajuda a entender sua linha de raciocínio e dá ainda mais vontade de acompanhar sua jornada para descobrir a verdade sobre todos segredos escondidos entre as paredes do hotel. Menções honrosas para Andrés, equilibrando comédia e drama, e Belén (Marta Larralde), que cresce muito ao longo dos episódios.

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Empregados do Gran Hotel. Foto: Reprodução

Mas da mesma forma que tem qualidades admiráveis, a primeira temporada de Gran Hotel também tem alguns defeitos que incomodam por serem recorrentes. O mais gritante é que, em um hotel que trate os funcionários com tamanha rigidez, não permitindo nem mesmo uma simples folga semanal, não é aceitável que funcionários entrem e saiam com tanta facilidade do estabelecimento. A Julio, por exemplo, dá-se folga a todo momento, saindo para descobrir o que houve com a sua irmã. Em certo ponto da trama, quando se vê perseguido pela polícia acusado de algo que não fez, ele vai embora sem dar satisfação aos seus superiores e depois volta para resolver outros mistérios, e ninguém pergunta a ele onde foi. Enquanto isso, a polícia também não investiga os funcionários para saber o paradeiro do foragido, o que não faz muito sentido.

Também há o quiprocó entre Javier Alarcón (Eloy Azorín) e as filhas de um general que se instala como hóspede do Gran Hotel. Mulherengo e irresponsável, ele dorme com as duas e provoca uma confusão que, além de não influenciar em nada na história principal, acaba se tornando chata, andando em círculos. A questão da passagem do tempo também incomoda, principalmente quando as barrigas das mulheres grávidas da trama não crescem. Sem esquecer o fato de uma carta que contém um segredo bastante relevante para a família Alarcón não ter sido jogada no fogo (além de estar escondida em um local de tão fácil acesso) força um pouco a boa vontade do espectador para acreditar piamente naquilo.

Fora isso, a primeira temporada Gran Hotel é uma grata surpresa, que envolve, diverte, emociona e deixa diversas pontas soltas para a segunda. Resta saber se os próximos episódios serão tão prazerosos e inteligentes quanto esses catorze primeiros.

 

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FICHA TÉCNICA

Gran Hotel (Gran Hotel) – 1ª Temporada, Espanha, 4 de outubro de 2011
Criadores: Ramón Campos e Gema R. Neira
Elenco: Adriana Ozores, Amaia Salamanca, Yon González, Pedro Alonso, Marta Larralde, Paula Prendes
Nº de Episódios: 14
Duração: 50 min.

NOTA - 5 XÍCARAS

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